Graciliano Ramos foi um dos maiores nomes da literatura brasileira. O autor de “Vidas Secas,” entre tantas outras obras consagradas, também escrevia crônicas em jornais de Alagoas e do Rio de Janeiro. Com seu estilo pessimista e irônico, não poupava críticas à sociedade de sua época. E gostava de fazer previsões que, por sinal, raramente se concretizavam. Uma delas dizia respeito ao futebol.
Certa vez, em 1921, publicou uma crônica num periódico alagoano que abaixo transcrevemos:

“Pensa-se em introduzir o futebol nesta terra. É uma lembrança que certamente, será bem recebida pelo público, que de ordinário, adora novidades. Vai ser por algum tempo, a mania, a maluquice, ideia fixa de muita gente. Com exceção, talvez, de um ou outro tísico, completamente impossibilitado de aplicar o mais insignificante pontapé em uma bola de borracha. Vai haver por aí uma excitação, um furor dos demônios, um entusiasmo de fogo de palha, capaz de durar bem um mês”.
“Pois quê! A cultura física é coisa que está entre nós inteiramente descurada. Somos, em geral, franzinos, mirrados, fraquinhos e de uma pobreza de músculos lastimável”.
“Mas, por que o futebol? Não seria melhor exercitar a mocidade em jogos nacionais, sem mescla de estrangeirismos?”
“Ora, parece-me que o futebol não se adapta a estás paragens do cangaço. É roupa de empréstimo que não nos serve”.
“Reabilitemos os esportes regionais que estão abandonados: o porrete, o cachação, a queda de braço, e melhor que tudo a rasteira. Cultivem a rasteira, amigos!”
“E, se algum de vocês tiver vocação para a política, então sim, é certeza plena de vencer com o auxílio dela. É aí que ela culmina!”
Assim, Graciliano errou em cheio na sua previsão sobre o futebol. Mas, na rasteira…
Por Gilberto Silos














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