Saúde

    Cigarros eletrônicos: uma ameaça à saúde disfarçada de modernidade

    Segundo alerta de especialistas, os vapes concentram até três vezes mais nicotina que o cigarro comum, além de conter metais e substâncias químicas associadas a câncer, ansiedade e depressão.

    A popularidade dos cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, esconde um cenário preocupante: longe de serem inofensivos, esses dispositivos contêm substâncias tóxicas que causam dependência rápida e danos severos à saúde física e mental, especialmente entre jovens.

    Estima-se que 27 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais fumem cigarros convencionais ou eletrônicos. Após anos de declínio no tabagismo entre adolescentes, os vapes reverteram essa tendência de forma alarmante.

    Embora a venda desses dispositivos seja proibida pela Anvisa desde 2009, seu acesso segue amplo, inclusive por meio do mercado ilegal. No podcast *g1 Bem-Estar*, o pneumologista Carlos Leonardo Pessôa, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, alerta que a ideia de que o vape seria “apenas vapor” é enganosa.

    O que realmente há nos vapes?

    Estudos do Laboratório de Química Atmosférica da PUC-Rio identificaram uma combinação perigosa em dispositivos analisados:

    Concentrações de nicotina até três vezes superiores às do cigarro comum, acelerando a dependência;

    Metais pesados, como níquel, prata e cromo, associados a maior risco de câncer;

    Substâncias antioxidantes ligadas ao desenvolvimento de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica);

    Glicerina, diacetil e acroleína, que podem causar bronquiolite obliterante (“pulmão de pipoca”) e irritação severa.

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    “O vape não contém as 9 mil substâncias do cigarro convencional, mas já catalogamos pelo menos 80 compostos tóxicos, suficientes para causar as mesmas doenças”, afirma Pessôa.

    Porta de entrada para o tabagismo

    Dados da Universidade de Michigan mostram que adolescentes que usam vape têm 30 vezes mais chances de se tornarem fumantes de cigarros convencionais. A estratégia repete o histórico da indústria tabagista: assim como os cigarros com filtro ou “light” foram vendidos como alternativas “seguras” no passado, os vapes são promovidos como opção menos nociva – o que não corresponde à realidade.

    Impactos na saúde mental

    Além dos danos pulmonares, pesquisas relacionam o uso de vapes ao aumento de ansiedade e depressão entre jovens. Cerca de 70% dos tabagistas em tratamento na Universidade Federal Fluminense apresentam transtornos psíquicos associados.
    “A nicotina parece acalmar, mas é mais estimulante de ansiedade do que relaxante. O cérebro se adapta à dopamina artificial e reduz sua produção natural, criando um ciclo vicioso de dependência”, explica Pessôa.

    Por que os jovens usam vapes?

    Entre os fatores que explicam a adesão estão:

    Design discreto e moderno, associado à tecnologia;

    Sabores artificiais que disfarçam o amargo da nicotina;

    Influência social e pressão de grupos.

    Como buscar ajuda

    O tratamento para dependência envolve três pilares:

    Apoio químico: uso de adesivos, gomas ou pastilhas de nicotina (disponíveis no SUS);

    Terapia comportamental: para identificar e desvincular gatilhos do hábito de fumar;

    Acompanhamento psicológico: para lidar com abstinência e fortalecer a motivação.

    O caminho começa em postos de saúde ou com pneumologistas no sistema privado.
    Prevenção e conscientização
    Para frear o avanço dos vapes, são necessárias campanhas massivas na TV e nas redes sociais, com mensagens claras sobre os riscos e engajamento de influenciadores comprometidos com a saúde pública.
    A mensagem final é clara: não há consumo seguro de nicotina. Quem não começou deve evitar o primeiro contato; quem já usa deve buscar apoio para interromper o quanto antes. “Nunca é tarde para parar”, reforça Pessôa.

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