´´Viver é muito perigoso“´. É uma frase dita pelo jagunço Riobaldo, personagem de Grande Sertão – Veredas, romance de João Guimarães Rosa.
Certamente, viver não era tão perigoso nos sertões de Minas Gerais como no Brasil atual. ´´O mar não está pra peixe“nestes tempos de TV digital, Inteligência Artificial e redes sociais elegendo políticos.
Não estamos nos referindo aqui somente a fatos como assaltos e balas perdidas. Isso, infelizmente, já integra o cenário da violência urbana. Mas, outros perigos também nos rondam e nem sabemos onde e quando se manifestarão. Eles às vezes procedem dos meios oficiais e nos pegam de surpresa. Nem sempre as notícias mais relevantes chegam aqui na ponta, porque podem comprometer muita gente ´´lá de cima“. Aqui na planície, vamos nos distraindo com os resultados do futebol, com as picuinhas politicas e o desenrolar das novelas. E continuamos a sonhar com um mundo melhor, até porque os sonhos não são tributados.
Muita coisa acontece nos labirintos escuros do poder e nós aqui sem saber como são feitas as salsichas. Guimarães Rosa, que fala pela voz rude de Riobaldo, confessa que ´´eu sei que nada não sei, mas ando muito desconfiado“. A maioria silenciosa pode, às vezes, até desconfiar, mas via de regra não faz ideia dos riscos que a rodeiam.

A descoberta recente do escândalo do INSS é um exemplo desse perigo. O ministro da Previdência e o diretor da autarquia já tinham conhecimento ou no mínimo suspeitavam de que havia ´´algo podre num reino que não era o da Dinamarca“. Mais de 6 bilhões de reais foram descontados indevidamente de milhares de aposentados e destinados aos bolsos de alguns pilantras. O ministro e o diretor, já alertados pela CGU e TCU, nada fizeram a respeito. O presidente da República demorou para demitir o ministro, que oficialmente ´´se demitiu“. Para o cargo, nomeou o segundo da escala hierárquica, por sinal filiado ao mesmo partido do ex-ministro, e também sabedor do que vinha ocorrendo. O desgaste político do governo é inevitável.
Agora que ´´a matéria fecal“ emergiu, pode-se perguntar se a ratazana envolvida será punida com os rigores da lei, pois demitir até que é simples. Basta uma canetada e coragem política.
Como revelou Riobaldo no romance de Guimarães Rosa: ´´O diabo não existia. O que existia era o homem“.
Quem são os homens?
Por Gilberto Silos














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