Outro dia desses, saboreando um daqueles pastéis de feira, observei na mesa ao lado o comportamento de um grupo de pessoas. Falavam alto e todos ao mesmo tempo, sem dar ouvidos às palavras de seus interlocutores. Parecia mais um monólogo coletivo.
Hoje em dia, estando em grupo, a necessidade de falar, mesmo sendo qualquer baboseira, tornou-se uma questão de honra, um momento de sobrevivência para o ego. Algo assim como uma disputa de egocentrismo, onde ´´a minha opinião é mais acertada que a sua, independentemente da solidez ou não de meus argumentos“.

Isso faz lembrar aquele belo texto do escritor e psicanalista Rubens Alves:
´´Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anúncios de cursos de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular…“
Em plena era da comunicação criou-se uma necessidade exacerbada de falar, opinar, discutir, polemizar, mesmo sem fundamentação no bom senso. E as redes sociais estão aí para facilitar esse ´´escoamento“ de palavras.
Indiscutivelmente, há que respeitar o livre direito de expressão, uma prerrogativa dos cidadãos numa sociedade democrática. Todavia, é saudável dar uma ´´peneirada“ nesse universo da comunicação. Quando falta senso crítico, corremos o risco de banalizar não somente a palavra, mas também a verdade. Isso pode ocorrer numa interlocução quando alguém insiste em fazer valer a propria argumentação sem respaldo da verdade, ou cerceia o contraditório do outro. O próximo passo, será a agressão verbal.
Quando alguém perde a capacidade de ouvir, o outro deixa de ser interlocutor e passa à condição de adversário. Nessas circunstâncias, é preferível o silêncio do que alimentar a vaidade de pessoas cujo prazer é impor suas verdades absolutas. Não se confunda com omissão. Trata-se de não aceitar o jogo da tagarelice inútil ou dos ouvidos moucos, que nada constrói.
Por Gilberto Silos














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