A pergunta do título sugere uma tentativa, justa ou não, de alguém eximir-se de alguma responsabilidade. Essa tentativa se torna mais veemente quando relacionada a algo desagradável ou nefasto. Segundo a voz do povo, ´´ninguém quer assumir a paternidade de filho feio“. E, como disse Sartre, ´´o Inferno são os outros“.
As pessoas e os governantes nem sempre percebem a relação de causa e efeito entre os fatos que permeiam suas vidas e a da comunidade. Problemas como a questão climática, as desigualdades sociais e a violência urbana, por exemplo, não se autogeraram. Resultam de uma sucessão de causas e efeitos que começam pelo homem, passam por ele e lhe continuam ligadas, até não se sabe quando. Não são obras do aleatório. Foram criados por muitos. Se alguém não os gerou, talvez ajude a mantê-los, conscientemente ou não.

Assim, critica-se a ganância predatória do sistema capitalista, mas não se abre mão do consumismo que o sustenta. Demoniza-se os políticos, sem interessar-se ou informar-se minimamente sobre política.
Tudo tem sua origem na forma como pensamos o mundo e nos situamos na vida. Ainda que a maioria rechace essa ideia, cabe-nos individualmente uma parcela de responsabilidade pelo que acontece ao nosso redor.
O nosso ´´eu“ vive em torno de si mesmo, de seus pequenos interesses, às vezes confundido com as demandas do coletivo. Esse ´´eu“ parece um computador sofisticado com capacidade de autoalimentar-se, conduzido pelo instinto de preservação. Some-se, também, a pressão da sociedade para o indivíduo atender suas exigências. Não sem razão o filósofo espanhol Ortega y Gasset afirmou que ´´o homem é ele mesmo e suas circunstâncias. Elas também ditam ordens ao ´´eu“ e estimulam suas contradições.
São muitas as contradições humanas em relação aos problemas que assolam o mundo. A grande ameaça, porém, é pensarmos que nada temos a ver com eles.
Por Gilberto Silos














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