Nos últimos anos, o avanço da neurociência e da psicologia clínica tem permitido compreender com mais profundidade os diferentes funcionamentos da mente humana. Ainda assim, um dos grandes desafios enfrentados por profissionais da saúde mental é o diagnóstico diferencial entre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). A confusão entre essas duas condições, embora compreensível em certos aspectos, pode trazer prejuízos significativos ao tratamento, à compreensão da pessoa e à forma como ela é acolhida em seu ambiente social e familiar.
Em especial quando este paciente está em “crise” “surto” e ele acaba sendo confrontado por médicos psiquiatras de prontos atendimento que colocam o Transtorno do Espectro Autista em uma “caixa” ele (paciente ) me olhou nos olhos , conseguiu se comunicar , Ah !!! Não é AUTISTA ?!
Por isso é MUITO IMPORTANTE os estudos em relação ao Transtorno do Espectro Autista
O diagnóstico preciso do autismo é fundamental para garantir que o indivíduo receba a abordagem terapêutica adequada, baseada em evidências e em suas reais necessidades neurológicas. Quando o autismo é confundido com o transtorno de personalidade borderline, a pessoa pode ser vista como “instável emocionalmente”, “manipuladora” ou “impulsiva”, quando, na verdade, suas reações podem ser respostas naturais de um cérebro que processa o mundo de forma diferente.
Pontos de semelhança que geram confusão
Autismo e borderline compartilham algumas características superficiais que, sem uma avaliação criteriosa, podem parecer semelhantes:
•Dificuldade em regular emoções: tanto pessoas autistas quanto borderlines podem ter reações emocionais intensas, crises de ansiedade ou momentos de irritabilidade.
•Medo de rejeição e abandono: indivíduos com TEA, especialmente aqueles diagnosticados mais tardiamente, podem sentir-se deslocados e incompreendidos, o que gera medo de exclusão social. No borderline, esse medo está mais ligado à instabilidade nas relações afetivas.
•Comportamentos repetitivos ou fixação em pessoas/situações: enquanto no autismo essas repetições estão ligadas à necessidade de previsibilidade e conforto, no borderline podem surgir como tentativas de controle ou validação emocional.
•Sensibilidade extrema: ambos os grupos podem apresentar alta sensibilidade a estímulos externos e emocionais — sons, tons de voz, críticas ou mudanças de rotina.
As diferenças fundamentais
Apesar das semelhanças aparentes, as bases dos dois transtornos são muito diferentes.
O Transtorno do Espectro Autista é uma condição do neurodesenvolvimento, presente desde a infância, caracterizada por diferenças na comunicação social, interesses restritos e padrões de comportamento repetitivos. Já o Transtorno de Personalidade Borderline é um transtorno de personalidade que surge na adolescência ou início da vida adulta, marcado por instabilidade emocional, medo intenso de abandono e oscilações na autoimagem e nas relações interpessoais.
No autismo, a dificuldade de compreender nuances sociais ,como ironias, intenções e expressões faciais, é uma questão neurológica e cognitiva. Já no borderline, a pessoa compreende as interações sociais, mas reage de forma emocionalmente intensa a rejeições reais ou imaginárias.
A importância do diagnóstico correto

Reconhecer essas diferenças não é apenas uma questão técnica, mas ética e humana. Um diagnóstico errado pode levar o indivíduo a terapias inadequadas, ao uso indevido de medicamentos e a um sentimento de frustração diante de tratamentos que não surtem efeito.
Além disso, o diagnóstico correto permite acesso a direitos, apoio educacional e intervenções comportamentais e sociais adequadas, especialmente no caso do autismo. Ele também contribui para que familiares, parceiros e profissionais compreendam melhor as necessidades e limites do indivíduo, promovendo relações mais empáticas e funcionais.
A fronteira entre o autismo e o transtorno borderline pode parecer tênue à primeira vista, mas é fundamental lembrar que semelhança não é sinônimo de igualdade. Cada condição carrega suas próprias origens, desafios e caminhos de cuidado. Por isso, o diagnóstico deve ser feito de forma multidisciplinar, cuidadosa e sem pressa, com escuta atenta, história de vida detalhada e avaliações clínicas específicas.
Somente assim será possível enxergar a pessoa além do rótulo, garantindo que ela receba respeito, compreensão e tratamento adequado à sua forma única de existir no mundo.
Dra Pollyana Vieira
Neurocientista Especialista em Comportamento e Desenvolvimento Humano
SBNeC n° 16557/21
Psicanalista
Analista do Comportamento – ABA
Neurocientista Especialista em Comportamento e Desenvolvimento Humano
SBNeC n° 16557/21
Psicanalista
Analista do Comportamento – ABA














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