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    Como verba milionária da Rouanet para Jockey Club de São Paulo foi parar em Goiás

    O Jockey Club de São Paulo utilizou R$ 83,6 milhões em incentivos fiscais dos governos federal e municipal para restaurar sua sede histórica nos últimos sete anos. A documentação analisada pela reportagem do UOL – TAB neste domingo (19) revela que parte desses recursos foi destinada a empresas ligadas a pessoas próximas ao conselheiro do clube e presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo.

    As notas fiscais usadas para justificar R$ 22,4 milhões captados via Lei Rouanet são as mesmas apresentadas para comprovar o uso de outros R$ 61,2 milhões obtidos junto à Prefeitura de São Paulo. Conforme apuração do UOL, a administração municipal rejeitou as contas e determinou a abertura de uma auditoria para investigar possíveis irregularidades, o que representa um significativo prejuízo financeiro e reputacional para o Jockey Club de São Paulo.

    Entre as empresas beneficiadas está a Construtora Vidal, que teria recebido R$ 11,2 milhões, mas cuja existência física não foi comprovada pela reportagem. No endereço informado em São Paulo funciona um apartamento cujo condomínio é pago por Wolney Unes, diretor técnico da Elysium, produtora cultural de Goiás que coordena o processo de restauro.

    A Elysium tornou-se uma Organização Social de Cultura em 2014, por decreto assinado por Perillo quando governava Goiás. A organização expandiu suas atividades, assumiu procuração do clube em 2020 e obteve quatro aprovações simultâneas pela Lei Rouanet em 2025, todas relacionadas ao Jockey.

    “Um projeto pode ter diferentes fontes de fomento, mas uma mesma nota não pode ser usada duas vezes para prestar contas”, explica a advogada Flavia Manso, especialista em incentivos fiscais.

    O escritório Ambiência Arquitetura e Restauro negou ter executado quatro projetos atribuídos a ele, avaliados em R$ 1 milhão. Já a Construtora Biapó, apontada como responsável por R$ 3,5 milhões em serviços, foi escolhida “pela experiência de 35 anos em restauro”, segundo a Elysium.

    A investigação identificou gastos com restaurantes, incluindo o Osaka nos Jardins (R$ 803 com jantar, sobremesa e gorjeta), farmácias, como a Drogaria São Paulo (R$ 21 em chá-mate, sal de frutas e Eparema), e confeitarias, como a Ofner (R$ 19 em éclair de chocolate).

    Também foram encontrados comprovantes de despesas em Goiânia, sede da Elysium, incluindo serviços de dedetização (R$ 200), higienização de tapete (R$ 300), conta de água (R$ 499) e IPTU (R$ 975).

    A Sapé, empresa de uma prima de Perillo que administra imóveis em Goiânia, forneceu um “kit gerador” enviado para Santo Antônio de Goiás, sem conexão aparente com as atividades do clube paulistano. A empresa compartilha endereço com a Elysium, que pertence a João Carlos, Wolney Alfredo e Sebastião Unes, identificados como tios e avô de Débora Perillo.

    O Ministério da Cultura confirmou que está apurando possíveis irregularidades em conjunto com a prefeitura, mas afirmou que “até o momento não foram identificadas inconsistências financeiras graves nos projetos concluídos”.

    Marconi Perillo tornou-se sócio do Jockey em 2019 e conselheiro em 2022. Desde então, tem atuado politicamente em defesa dos interesses do hipódromo, tentando reduzir ou isentar o clube de dívidas de IPTU e ISS que ultrapassam R$ 800 milhões.
    Após perder a eleição ao Senado em 2018, Perillo mudou-se para São Paulo, onde sua consultoria foi contratada pela CSN, empresa de Benjamin Steinbruch, então presidente do Jockey. Foi nesse período que a Elysium iniciou as negociações para o projeto de restauro.

    A reportagem verificou que, apesar dos investimentos, áreas do clube permanecem em estado precário. A Tribuna 1, mesmo após receber R$ 7,7 milhões via Lei Rouanet, ainda apresenta vidros quebrados, portões trancados, bancos danificados, buracos no teto e fiações expostas. Essa situação evidencia os prejuízos diretos ao patrimônio do Jockey Club, que além de enfrentar problemas com a prestação de contas, não conseguiu concretizar as melhorias estruturais prometidas com os recursos captados.
    O presidente do Jockey, Marcelo Motta, declarou que “devido ao seu caráter privado, quem o Jockey contrata diz respeito apenas a ele”. O clube criticou o que classificou como “interesses nada republicanos”, sugerindo uma tentativa de desvalorizar o imóvel para justificar eventual desapropriação.

    Perillo “negou veementemente” ter indicado a Elysium e afirmou conhecer Débora Perillo “apenas de vista”, classificando-a como “prima de terceiro grau”. O tucano descreveu a coincidência de sobrenomes como “coincidência” resultante do fato de que tanto ele quanto a Elysium são originários de Goiás. “Não participei de nenhuma escolha e não sou responsável por acompanhar esse trabalho. Qualquer ligação com meu nome é uma leviandade absurda”, afirmou.

    A Elysium declarou que contratou a Vidal “pela experiência técnica” e que a empresa executou demolições e recomposição de pisos. Sobre Débora Perillo, a produtora informou que ela é sócia da Sapé “por herança” e que “não atua em nenhuma das empresas”. A entidade afirmou que “Sua ligação com Marconi Perillo é, na prática, inexistente, exceto pelo sobrenome” e garantiu que “não houve consumo de álcool pago com recursos públicos”.

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