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    A dignidade do trabalho

    A relação capital-trabalho, desde os primórdios do capitalismo, não tem sido pacífica. Cada parte sempre defendeu seus interesses, objetivando na maior parte das vezes obter vantagens materiais. O valor intrínseco do trabalho, porém, vai muito além dessas vantagens.

    O trabalho pode ser considerado um valor moral quando realizado de forma socialmente responsável e moralmente aceitável. Caso contrário, cai na vala comum da exploração do homem pelo homem e da mera luta pela sobrevivência.

    Numa sociedade civilizada, a oportunidade de trabalhar oferece dignidade e reconhecimento social. Essa dignidade, entretanto, só se completa quando há satisfação no que se faz.

    Nos dias atuais, em meio a crises e ameaças, o trabalho tornou-se sinônimo de meio de sobrevivência. Isso lhe empana a dignidade, ainda que à luz da ética e da solidariedade a remuneração deva ser justa e suficiente para prover a subsistência. Não só pelos seus frutos, mas pelo espírito com que é executado, o trabalho deve ser honrado, compensador e motivador.

    Pode parecer utópico para alguns, mas a satisfação com que se realiza uma tarefa tem muito a ver com os seus resultados. Por leve que seja, torna-se pesada e enfadonha quando executada sem satisfação. É psicologicamente gratificante saber-se útil pelo bom emprego de seus talentos. Se esse esforço é reconhecido, é outra questão, sujeita à falibilidade do caráter humano.

    A tarefa importante de cada dia não é somente aquela capaz de suprir as necessidades básicas de cada um. Compreende também o conjunto das pequenas coisas que fazem parte do cotidiano. São aquelas ações aparentemente tediosas e prosaicas, cujo valor é menosprezado. Nesse rol podemos incluir também o serviço voluntário prestado em entidades, movimentos e projetos sociais. A esses esforços nem sempre se reconhece a importância, por não envolver lucro nem remuneração. Contudo, preenchem lacunas e complementam políticas públicas legalmente atribuições e obrigações do Estado. E, isso não é pouco.

    Rumi, poeta persa do século XIII, já afirmava que a nossa lida de cada dia diz muito a nosso respeito. E dizia mais: “ O homem de bem  é filho do tempo presente e da tarefa perfeita´´.

     

    Por Gilberto Silos

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    • Seu texto me lembrou uma frase que já citei algumas vezes: ‘Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida.’ Sempre achei essa ideia inspiradora, porque valoriza a paixão pelo que fazemos. Já usei essa reflexão para motivar pessoas e até a mim mesma em momentos desafiadores. Mas, com o tempo, passei a questioná-la um pouco. Será que, mesmo amando o que fazemos, o trabalho nunca pesa? Será que essa visão não pode, de certa forma, romantizar demais certas realidades? Seu texto me fez pensar sobre isso. Como sempre, adorei a leitura!🌷

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