Ao longo dos últimos anos, a compreensão sobre o autismo evoluiu significativamente — e um dos aspectos que mais surpreendem quem conhece o tema apenas superficialmente é a hiperempatia, um traço presente em muitas pessoas no espectro. Longe da antiga crença de que o autista “não sente empatia”, estudos e relatos clínicos mostram um cenário bem diferente: para muitos, o desafio não é a falta, mas sim o excesso de empatia.
Neurocientistas explicam que essa resposta exagerada está relacionada a modos particulares de processamento sensorial e emocional presentes no cérebro autista. Há uma combinação entre hipersensibilidade aos estímulos, dificuldade de filtrar informações e uma forte tendência à empatia afetiva, que é aquela resposta emocional imediata, espontânea e intensa. Diferente do que se imagina, o desafio para muitos autistas não é “falta de empatia”, mas sim regular o quanto sentem.
A hiperempatia é caracterizada por uma sensibilidade emocional ampliada, na qual a pessoa autista percebe, absorve e reage às emoções dos outros de forma muito intensa. Não se trata apenas de compreender o que o outro sente — trata-se de sentir junto, quase como se aquela emoção fosse sua. Esse impacto emocional pode ser tão profundo que interfere no bem-estar físico, no humor e até na capacidade de se autorregular.

Pesquisadores explicam que essa intensidade pode estar relacionada ao modo singular como o cérebro autista processa estímulos. Muitos autistas apresentam hiperssensibilidade sensorial e emocional, além de uma tendência natural à empatia afetiva (aquela resposta emocional imediata e espontânea). Quando combinadas, essas características podem transformar qualquer interação social em um fluxo emocional difícil de filtrar.
Na prática, a hiperempatia pode aparecer em situações simples do cotidiano: a criança que chora ao ver um colega frustrado, o adolescente que sente angústia ao presenciar discussões na escola, o adulto que fica emocionalmente exausto após ouvir o desabafo de um amigo. O impacto é real — e, muitas vezes, invisível para quem está de fora.
Especialistas defendem que reconhecer a hiperempatia no autismo é essencial para oferecer suporte adequado. Compreender esse traço evita julgamentos como “sensível demais” ou “dramático”, e abre espaço para estratégias mais humanas: ambientes menos sobrecarregados, desenvolvimento de habilidades de autorregulação emocional e limites afetivos saudáveis.
Em vez de representar uma fragilidade, a hiperempatia demonstra a enorme capacidade de conexão que muitas pessoas autistas possuem. Quando acolhida, pode se transformar em uma de suas maiores forças: sensibilidade, compaixão genuína e profundidade emocional — qualidades que enriquecem vínculos, ambientes e relações humanas.
Dra Pollyana Vieira
Neurocientista Especialista em Comportamento e Desenvolvimento Humano
SBNeC n° 16557/21
Psicanalista
Analista do Comportamento – ABA














Muito esclarecedor.
Excelente e parabéns pelo trabalho dra.
Posso imaginar o quanto de esforço você colocou nesta escrita, e o resultado é excelente.” Muito interessante, Dra.Polly.
Que texto necessário e sensível!!
Parabéns e obrigada por trazer conhecimento e incentivar um olhar mais acolhedor e humano.
Achei muito interessante o artigo, não imaginava e desconhecia essa característica de hiperempatia conforme brilhantemente abordado. Nota 10!